sábado, 30 de novembro de 2013

Tabosa - Fornos de Maceira Dão. Capela de São Geraldo




Ermida de invocação a São Geraldo - Tabosa
Esta ermida foi construída no ano de 1655. Logo que finalizada, alguns moradores deslocaram-se a Viseu a casa do Tabelião João de Barros do Amaral, no dia 23 de Dezembro, informando-o.
O grupo era constituído por Bartolomeu de Albuquerque e seu criado Gaspar Roiz, António Lopes, Manuel Alves, Matias João, António Fernandes e o seu criado Adão, todos moradores em Tabosa, freguesia de S. Miguel de Fornos, do Concelho de Azurara da Beira (como então era conhecido Mangualde).
Queriam pedir licença ao revisor do bispado João de Almeida Loureiro para aí ser dita a missa. Estes comprometiam-se a que nada faltasse na dita capela e que estivesse sempre em bom estado, até ao fim do mundo.


                              As traseiras da Capela - construção em granito com Feldspato cor de rosa


Nesse mesmo dia, Matias João, o procurador dos habitantes de Tabosa, assinava, perante o escrivão da câmara eclesiástica, Manuel de Almeida Castelo Branco, o termo de sujeição e de obrigação.

Fornos Maceira Dão - Patrimonio lendário

Lenda

«O convento de Maceira Dão era habitado por frades, e de lá vinham pedir aos Povos vizinhos para os sustentar. Ali próximo existia uma localidade de nome Pardieiros (Nelas), a qual era muito frequentada pelos frades ou seu representante de nome Caiés. Como os Pardieirences não tinham dinheiro os frades levavam tudo o que as famílias criavam, animais e cereais etc. Quando as pessoas não queriam dar ele (Caiés) ameaçava dizendo (Se não levar a bem levo a mal). Caiés, que era de S. Gemil, vinha buscar os mantimentos aos Pardieiros com a população sempre revoltada, até que um dia a população uniu-se e esperaram por Caiés pelo caminho e mataram-no. Dai em diante os Pardieirences dizem a seguinte quadra»

Senhora da cabeça
Que estás em Maceira Dão
Mal empregada senhora
                                             Estar na mão de tanto ladrão


Fornos Maceira Dão. Afloramento na Serra dos Cabaços e a sua ligaçao com os Celtas

Gruta da Moura - limite do antigo caminho pedonal de Fornos para Mangualde

Também chamado o Penedo do Pecado. O Penedo dos Cabaços. Penedo dos Casamentos. O esconderijo das bruxas que dançavam numa laje ali ao lado.
 
As palavras chave: Pecado, cabaços, bruxas, casamentos, danças, e esconderijo.
 
Porquê pecado? questiono.  




 
 
O afloramento está associado a rituais e cultos célticos.
Como sabemos, os Celtas eram uma “nação” politeísta. Realça-se que em todo o mundo celta, havia comunidades que tinham os seus próprios deuses, para além dos deuses comuns.
Nos rituais religiosos dos celtas, realizados em locais ao ar livre, onde a natureza seria “a mãe de toda a existência” haveria participações de homens e mulheres integralmente nus, mas nada de cariz sexual. Daí, talvez, o afloramento ser apelidado, o penedo do pecado. Sabemos que o cristianismo não aceitava tais posturas e rituais, e também por isso denominarem o penedo das feiticeiras, seria pela participação de mulheres nas danças cerimoniais, ou seriam os sacerdotes que nas cerimónias usavam os seus capotes brancos, fazendo lembrar as feiticeiras? Como referia, o catolicismo “in illo tempore” não aceitava, sendo consideradas pagãs.
Notável, também, a condição social das mulheres, de igualdade em relação aos homens, e por vezes, uma comunidade mais matriarcal que patriarcal.
O que é certo é existir uma simbiose perfeita entre os celtas e a natureza ao ponto de considerarem vários deuses a alguns símbolos naturais como as rochas e as arvores...
Existiu, naquela época, um importante povoado, aldeia ou cidade celta, aqui bem perto, na encosta nascente da Serra dos Cabaços, denominada “Castelo Araócelo”. Com a propagação do Cristianismo e romanização, alterou para o topónimo que ainda hoje possui, São Cosmado. Existiriam outras localidades envolventes e que se encontrassem naquele lugar para tais rituais? É provável.
Grande parte do legado celta foi “apagado” pelo catolicismo de então, e por outras causas, e sabe-se muito pouco, já que, apesar de muito cultos, não foram escritos os seus conhecimentos à semelhança de outros povos dessa época, como por exemplo os romanos. Aceito que mais registos tenham elaborado os romanos sobre os celtas, que os próprios celtas de si mesmos.
 Ainda assim, várias tradições mantiveram-se até ao século XX, e em diferentes países.
Participei, alguns anos, em manifestações culturais, presumo a sua origem céltica.
Em algumas ocasiões, fomos perseguidos pela Guarda Nacional Republica. Nunca soubemos quem decidiu tais buscas, mas a tradição ía sendo conservada ano após ano, apesar das perseguições e riscos – o lançar dos cabaços ou casamentos.
Relembro um facto sucedido: O Senhor Angelino Baptista, Pai dos meus respeitosos amigos, Rui Baptista, Mário Baptista e José Alberto Baptista, que participou, no seu tempo, nesses eventos. Após a Guarda Nacional Republicana os ter neutralizado nos seus actos, um agente conseguiu agarrar no funil do Sr Angelino, no breu daquela noite de inverno ou de primavera fria, antes da quaresma. Com receio de chegar a casa sem o funil que enchia os túneis de vinho do seu pai, gritou: …se regressar a casa sem o funil que nem sequer o pedi ao meu pai, ele mata-me… estica com tanta força o braço, e eis que fica o elemento da Guarda Nacional Republicana com a parte larga do funil, e o senhor Angelino com a parte estreita na sua mão, e escapa-se do Guarda, mas que de pouco lhe valeu, pois teve de carregar com os açoites de seu pai.
Em que assentavam os Cabaços ou Casamentos:
Elaboravam-se duas listas de pessoas solteiras, independentemente da sua idade. Um rol de homens e um rol de mulheres. Eram ponderadas/os todas/os que tivessem já atingido a puberdade, a olhos vistos, exprimamo-nos assim. Por vezes, seria omisso um ou outro caso dúbio, consoante existisse número suficiente para formar parelha. Cada nome era escrito num pequeno papel, dobrado e colocado numa boina – quer para mulheres, quer para homens. Daí sairia, por sorteio, a parelha correspondente. Naturalmente, eram criadas excepções, aos casos de alguma intenção expressa ou a pura existência de qualquer caso suspeito de feição amorosa, bom tema de “cochicho” na época, de vontade própria, ou mesmo de remédio inevitável, como era o caso dos solteirões ou solteironas. Muitas das vezes com motivo de tentar arranjar/arrumar uma relação que tardava. Julgo fazer-me entender.
O sorteio e o lançamento dos cabaços ou casamentos, era anunciado numa noite, antes da quaresma. Uma vez mais, a força do catolicismo a ditar a altura do disseminar dos casamentos. Os participantes, apenas solteiros, e com liberdade para poderem anunciar, muniam-se de grandes funis. Pela idade, ou outras razoes, nem todos eram autorizados pelos pais, a participar. Um grupo localizava-se no caminho que leva a Serra se Santo António dos Cabaços, junto do chamado Sanatório, e outro na colina dos Outeiros junto dos Barreiros, na então chamada Vinha do Caetano, outro ponto alto e frontal ao primeiro.
Na aldeia, as raparigas, caso desejassem, tentavam ouvir, para identificarem o seu par elegido.
Sabendo bem o entoação, e em breve farei um cadastro fonético, relembro as expressões e forma do lançamento dos Cabaços ou Casamentos.
Em uníssono, consoante a intervenção de cada grupo, e que normalmente era composto por entre quinze a vinte elementos, por vezes mais:
O grupo 1 (dos solteiros) iniciava o ritual, e que aqui represento a negrito não sublinhado, sendo o grupo 2 – relativo as solteiras que abaixo represento em sublinhado, assim sendo:
stá lá com-pa-dre… (b)… stá lá.
stá lá com-pa-dre... (b)… stá lá.
Va-mos i-ni-ci-ar… (a)… Va-mos i-ni-ci-ar…(c)… os ca-sa-men-tos dois mil e quin-ze com-pa-dre…(b)… os ca-sa-men-tos dois mil e quin-ze.
stá bem com-pa-dre…(b) … stá bem.
Pri-mei-ro ca-sa-men-to… (a)… Pri-mei-ro ca-sa-men-to…(c)… José Manuel Amaral … (b)… com-pa-dre… (c)… José Manuel Amaral.
stá bem com-pa-dre…(b) … stá bem. (pausa de sensivelmente 3 a 4 segundos) e retomava o mesmo grupo).
Pra e-sse gen-til me-ni-no…(a) … Pra e-sse gen-til me-ni-no …(c) … Judite Peixoto Amaral… (b)… com-pa-dre…(c)… Judite Peixoto Amaral.
Bo-a ra-pa-ri-ga …(b) … com-pa-dre …(b) … Bo-a ra-pa-ri-ga. (pausa de sensivelmente 3 a 4 segundos) e retomava o mesmo grupo).
Se-gun-do ca-sa-men-to… (a)… Se-gun-do ca-sa-men-to…(c)… António Fernandes …… e assim por diante até se finalizarem todos os casamentos, nos termos aqui apresentados no primeiro casamento, que como é evidente, faziam parte integrante da lista.
Ajudas
Stá= está
…(a)… = Pausa de inspiração de ar para os pulmões.
…(b) … = pequeníssima pausa com ligeira baixa de tom.
…(c) … = pequeníssima pausa com ligeira subida de tom.
Finalizado o ritual, havia sempre comida e bebida, cada qual levava o que podia tirar em suas casas, e era então elaborada a lista dos casamentos efetuados, e colocada em porta de madeira de uma casa, num local central da aldeia para consulta de interessados.
 
 
 
 
 
 
 

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Fornos Maceira Dão. Capela de São Tomás de Aquino



Capela de S. Tomás de Aquino
O Santo Dominicano advogado dos estudantes e da sabedoria
A Sua festa litúrgica é a 28 de Janeiro
A sua frase mais celebre O primeiro degrau para a sabedoria é a humildade."

Esta capela foi construída em 1711 pelo Padre Manuel da Costa Lopes, junto da sua residência, nos últimos anos da sua vida. Foi benzida em 01 de Outubro desse ano pelo padre Francisco Correia, pároco da Freguesia de Fornos de Maceira Dão, natural da aldeia de Parada, da Freguesia de S. Miguel do Outeiro.
O seu fundador, morreu em 1715,  tendo sido nela sepultado.
É notável a pedra tumular de sua irmã Mariana da Costa, também ali sepultada, e que contem uma coroa e folha de palma em baixo relevo esculpido. É curioso que naquela época, a zona onde a capela foi construída, era denominada de Aldeia Nova.
Em 1810, com as invasões francesas, por receio de saque, o recheio foi retirado, dando-se o inicio da sua ruína, sendo que em 1860 já se encontrava sem telhado.
Um crucifixo em madeira está na posse de uma herdeira – a filha do Sr. Américo do Banho (Termas de Alcafache), e os santos, S. Tomás e S. Tomé, numa capela privada em Covelas – Santa Cruz da Trapa – S. Pedro do Sul.
Em 1985, a capela foi adquirida pela Junta de Freguesia, e doada à Fabrica da Igreja.
O Restauro iniciou-se em 1992, da responsabilidade da Associação Cultural Fornos Maceira Dão, com o aval daquela entidade.
Os apoios surgiram do Governo Civil Viseu, Associação Fornos (lucros festas, bailes e outras atividades), Câmara Municipal Mangualde, População e amigos da Freguesia e ainda do Instituto Juventude de Viseu.
O Santo foi oferecido por António Loureiro, obra de um escultor de Oliveira do Hospital.
Outras informações adicionais consultar,
Arquivo Distrital Viseu,
Jornal Renascimento na sua edição de 01 de Maio de 1993,
Herdeiros da capela.


Baixo relevo na sepultura da irmã do fundador da Capela

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Fornos Maceira Dão - dados da Pré-historia




São gratificantes os indicadores da presença humana na pré-historia, demarcando, como é obvio, a área da Freguesia.
Nos registos de prédios ou terrenos, surgem nomes como: Herdade da Anta, Quinta das Campas, Prédio das Lapas, Quinta dos mortórios, entre outros.
Na aldeia de Fornos, as casas, estão na sua maioria construídas num maciço rochoso. Os bons terrenos teriam sido importantes e poupados para a prática agrícola.
Entre a capela da Senhora da Graça e a aldeia surge a sepultura antropomórfica da Cancela. Na parte norte da aldeia (o Cruzeiro, e que em tempos se chamou aldeia nova, devido à construção de muitas habitações, dos operários do Solar da Quinta de Santo António), existe uma necrópole com várias sepulturas. Estão por sob as casas.
Aquando de obras de restauro ou remodelação, nas casas intervencionadas, foram visionadas algumas, mas que não vou revelar onde, para não criar qualquer constrangimento de que ordem for, com os proprietários.
No limite desta freguesia com a freguesia de Lobelhe do Mato, uma outra sepultura antropomórfica.
Na aldeia de Tabosa, a 100 metros da Capela de S. Geraldo, na direção para norte, para Fagilde, uma outra sepultura antropomórfica.
Recentemente, e a pouco mais de 150 metros da Sepultura da Cancela, num lugar denominado de Pinhal Soitinho, surgiu um bloco de granito com 5 metros de comprido, e que julgamos tratar-se de um Menir, ainda se encontra soterrado. Foram já encetados esforços para a sua imediata recuperação.
Junto ao presumível menir, foi descoberto um achado em pedra.
A sensivelmente 200 metros, para nascente, apareceu um outro achado em pedra de forma esférica.
Duas outras pedras surgiram ali perto e que julgamos tratar-se de trituradores manuais de cereais.
Fazia referencia ao Castro, num monte entre a Igreja e o Mosteiro de Maceira Dão e que se desconhece ter aí sido efetuada qualquer trabalho arqueológico.
Lembrava ainda a gruta da Moura, na Serra dos Cabaços, afloramento peculiar, junto ao caminho antigo, pedonal, que ligava Fornos ao Vale da Choca e daí para Mangualde.
Referia também algumas construções em granito, circulares, de pequena dimensão, com uma porta apenas, uma localizada na encosta de Vila Garcia junto ao caminho que dá para Fornos. A segunda para cá do rio dos Frades já perto da Quinta da Tapada. A terceira no Aleixo, junto do Bairro das Lameirinhas.
Os casos expostos deveriam ser analisados por pessoas da área, com vista a um conhecimento mais consistente.