segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Combatentes da 1ª Grande Guerra

Capacete trazido por meu avô

Fornos de Maceira Dão
Convido a conhecer pedaços da vida de pessoas que participaram na 1ª Grande Guerra, naturais desta comunidade. Factos narrados pelos próprios, a seus familiares. Chegou ao meu conhecimento que desta freguesia foram três os participantes na Grande Guerra: Bernardino Fernandes de Tibalde, Adelino Loureiro de Fagilde e Bernardo da Costa de Fornos de Maceira Dão. Este último era o meu avô materno. Os Relatos que vou descrever, foram transmitidos a sua filha (minha Mãe). Dizia ele: Num dia de batalha, estando o combate a correr desfavorável, ele e os companheiros, escaparam com vida, ao se deitarem no chão junto de outros mortos, fingindo-se também mortos. Conseguiram traduzir estas palavras dos soldados inimigos “Estão todos mortos entre outras frases que não souberam traduzir. Depois de se sentirem seguros regressaram a suas bases. Relatava meu avô que havia dias que apenas comiam cabeças de nabo encontradas nos campos. A água, quantas vezes era bebida nas poças das patas dos cavalos. Terminada a guerra regressou a Portugal, trazendo consigo uma farda ou capote, um cantil e um capacete. O capote era usado no Entrudo por quem lho pedisse. O capacete ainda é da minha lembrança e esteve arrumado numa casota do campo de serventia a pequenas alfaias agrícolas. O general Santos Costa, teve conhecimento da sua existência e mostrou algum interesse em adquiri-lo.
As guerras deixam sempre feridas. Meu avô jamais foi o homem que era. Três graves problemas o acompanharam até ao final da sua vida. O tique da cuspideira, pois passava o dia cuspindo, do trauma dos gases e cheiros da guerra. O tique dos pés, por desviar-se de objectos suspeitos ou dos cadáveres. Perdeu para sempre o fulgor da sua cabeça, resultante dos já referidos traumas. Ainda assim, contava minha mãe, que para esquecer amarguras, longe da pátria e da família, ainda cantavam. Minha mãe conseguiu lembrar uma dessas canções:
Passa frio, passa fome
O soldado até nem come
Nada tem nada lhe dói

Ser soldado é uma ilusão
Ter a força dum leão
E a bravura dum herói

Quando vamos prá trincheira
Metendo a mão no bornal
Ao puxar pela cigarreira
Que veio da pátria amada
Desse lindo Portugal

O Sr. José Ferreira da Silva, “Zé Peras” como era conhecido, homem de forte personalidade, rigoroso na estima, foi, nas meadas do século XX, trabalhar para o “Alentejo” embora do Ribatejo se referisse. Seu patrão chamava-se Jacinto e vivia no lugar de Casal Douro, Vila Chã de Ourique, Cartaxo. De onde vens, José Ferreira? De Mangualde, mais concretamente de Fornos de Maceira Dão. Calma Aí – retorquiu o patrão. Eu lutei na Grande Guerra em França ao lado de um conterrâneo teu, de nome Bernardo da Costa. Meu vizinho – respondeu o José Ferreira.

Então, seu patrão divagou no tempo e iniciou a relatar que num certo dia ele teve informações de que o local onde se encontrava um pelotão de soldados aliados, iria ser atacado. De imediato se colocaram em fuga. De facto, o local foi atacado, para espanto de todos. Por tal motivo veio a ser condecorado.

Seria uma grande homenagem referenciar estes nomes e de muitos outros que por circunstancias diversas se bateram.

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